Caras de Páscoa (2)

2022-07-02

Era tarde na primavera quando reparei que estavam na nossa universidade tantas caras interessantes, quase no final de abril, mês que significa talvez ou pode ser. Alguns deles eram dos habitantes que compartilham a história com a Universidade de Aveiro e outros eram dos visitantes que chegaram para a Páscoa.

Os visitantes

Surgiram, de repente, no início de abril muitas caras novas no salão de Serviços de Estudos, em cima da cantina. Diariamente saio da cantina, vejo os rostos cheio de histórias, e a minha mente começa a vaguear, desejosa de perceber o significado das linhas inesperadas e das cores destemidas.

Na minha imaginação, o Senhor Cobarde e a Senhora Chama são dois dos meus papéis favoritos.

 

O Senhor Cobarde

Chamam-lhe cobarde e, por acaso, ele também pensa o mesmo. Nesta perspetiva, o Senhor Cobarde possui a coragem de admitir a sua cobardia. Ele é de estatura baixa, mas tem um cabeça enorme ao mesmo tempo. Na sua cara longa e pálido há os lábios finos e o nariz que parece ainda mais longa. Os olhos são grandes e azuis, afundados à sombra formada pelo acro da sobrancelha, sempre cheios de fraqueza e incerteza. Não é um homem de aparência, honestamente. Muitas pessoas acham ele não confiável de acordo com o rosto dele.

Quase nunca produz nenhumas ideias, nem fez nenhumas decisões, concordando simplesmente com as opiniões de outras pessoas ao lado. É verdade que o Senhor Cobarde não é um herói, mas a verdade não se importa a ele. Está satisfeito com quem ele é. Acredita que o tempo é justo para todos, embora o mundo não. Custa a crer que um homem tão cobarde como o Senhor Cobarde goste de girassóis e Vincent Willem van Gogh, pintor talento e louco que se suicidou. Ele veste-se sempre de azul ou de cinzento, mas adora a flor mais deslumbrante. Olha, ele destacou-se agora debaixo do sol, tal como o girassol que comprou para celebrar a Páscoa.

 

A Senhora Chama

Contrariamente ao Senhor Cobarde, a Senhora Chama sempre foi uma beleza. As pessoas têm elogiado desde jovem a cara perfeitamente oval, o nariz pequeno e a estatura elegante dela.

Denominam-na a Senhora Chama e ela sabe bem por quê. Com o cabelo longo e ruivo, os olhos grandes e castanhos e os lábios cheios e vermelhos, o seu todo parece um fogo ardendo, que dóis aos olhos que lhe fitaram por longo tempo sem se aperceber. A mãe disse-lhe quando era pequena que ela iria ter uma vida fácil desde que quisesse.

Todavia, como ela cresceu numa cidadezinha rural, tinha pouca oportunidade. Não falando outras línguas, só conseguiu o emprego de ter a seu cargo as crianças num jardim infantil onde trabalhava todo o dia e não lhe permitiram usar brincos ou anéis.

Acabou por descobrir que a vida dela era simples, mas não era fácil. Não gostava de crianças nem a sua vida agora. Sustentou-se perante o barulho e os disparates que se deixaram quase maluca, quando os pais das crianças apenas se queixavam da sua impaciência.

Ocorreu-lhe nesta Páscoa que ela estava farta deste emprego, e que ela iria procurar a vida tão extraordinária quanto o seu cabelo. Preparou a bagagem e partiu mal amanheceu. Ela não sabia para onde ia, mas não se preocupava com nada. No seu carro, ela cantava em voz alta com a rádio, manando o cabelo para trás no vento, ainda mais vermelho pela aurora dourada. Neste momento, a Senhora Chama parecia um foguete em chamas, soltando com grande velocidade para a frente, e para um futuro que cintile.

Desejo ambos eles boa sorte.

Feliz Páscoa!

 

 

   (Todas as imagens são autorizadas pelo fotógrafo)