Caras de Páscoa (1)

2022-07-02

Era tarde na primavera quando reparei que estavam na nossa universidade tantas caras interessantes, quase no final de abril, mês que significa talvez ou pode ser. Alguns deles eram dos habitantes que compartilham a história com a Universidade de Aveiro e outros eram dos visitantes que chegaram para a passar a Páscoa connosco.

   

   

Os habitantes

Eles situam-se ao lado da rua, em frente da reitoria, onde passam centenas de estudantes e docentes. Pareciam-me simplesmente pedras irregulares à primeira vista. A minha amiga gritou com surpresa quando viu as suas caras embutidas.

Acredito que eles são imigrantes chilenos da Ilha de Páscoa, visto que se assemelham aos moais, estátuas de pedra enormes e misteriosas que criam fama para a ilha e o país.

   

São parentes afastados? Talvez.

   

Então, por que é que saíram para a Universidade de Aveiro?

Nunca consigo perguntar-lhes diretamente e tenho de matar a minha curiosidade com uma história que me satisfaça.

Os moais, também conhecidas como Cabeças da Ilha de Páscoa ou Naoki, são os gigantes que sabem usar a mágica antiga. É por isso que eles se tornaram tão grandes, medindo, na sua maioria, entre 4,5 a 6 metros de comprimento e pesam entre 1 a 27 toneladas. A maior delas, entretanto, tem mais de 20 metros de altura.

Com a estatura e a mágica, os moais não tinham medo de nada, e a vida era fácil demais numa ilha pequena onde eles dominavam tudo. O tempo ia passando e os moais, aborrecidos, pegaram no sono.

Maso problema, claro, era que um dia a mágica não conseguisse resolver todas as dificuldades. Portanto, alguns dos moais decidiram sair da Ilha para uma universidade em busca de sabedoria e informações. Sendo a viagem longa e complexa, eles desistiram de corpos pesados para não carregar peso.

   

Na Universidade eles ouvem e compreendem as línguas humanas, apanham as teorias e ideias, mas nunca falam ou veem, receando que as pessoas fiquem espantadas e se afastem.

Os moais costumava ser gigantes, mas agora são estudantes com grande estima aos colegas e professores. Mantêm um rosto calmo e amigável, satisfeitos com a experiência.

No entanto, de tempo a tempo eu gostaria de saber se eles sentem saudades de casa ou cansaço de estudo como eu sinto às vezes. Sem conversações e contactos com os olhos, se eles também vão começar a dormir um dia no futuro? Se calhar preferem a solidão, que é o preço do melhoramento desejado.

Eles são habitantes na Universidade de Aveiro enquanto eu só sou uma visitante. Tirei as fotografias deles nesta Páscoa, dado não querer me esquecer das caras únicas. Neste momento, todos nós somos estudantes, silenciosos e tranquilos, com os olhos quase fechados debaixo do sol, pretendendo um futuro promissor.

   

(Todas as imagens são autorizadas pelo fotógrafo)